segunda-feira, agosto 17, 2009

O conto da Dama e seu Guerreiro.


Olá a todos. Hoje resolvi publicar um de meus contos, e este é especial pois veio para ser a resposta de um problema que eu tinha que resolver, a algum tempo atrás. Depois de muito pedir aos Ancestrais por uma luz, um conselho sábio para resolver esse dilema, eles me trouxeram a resposta na forma deste sonho, e o mais fantástico é que este sonho foi repetido. Eu já havia sonhado com isso, em outra situação, onde eu não tinha nenhum problema, e a segunda versão do sonho foi diferente da primeira, com alguns acréscimos para que eu pudesse fazer o que tinha de ser feito. Eu entendi a mensagem e aplico ela na minha vida, diariamente, e tem feito toda a diferença para mim, desde então. Como eu prego que o conhecimento deve ser compartilhado, ( afinal, nunca se sabe quem pode estar precisando daquela dica), resolvi publicar este meu conto. Se ajudar alguém, em algum lugar, vou me sentir muito satisfeita! ^^
Boa leitura!

DESTINO
Havia uma mulher que amava um certo guerreiro. Quando ela se apaixonou, moveu o mundo para conquistá-lo, usou de todos os recursos. Foi seu grande desafio, pois ele era praticamente intocável, esquivo como um pássaro, e seu coração era fechado ao amor como uma rocha. Mas mesmo o minério mais duro tem fissuras, e um dia o amor desta mulher entrou no coração do guerreiro como a água. O guerreiro sentiu a novidade como se uma flor brotasse do gelo. A batalha foi tão longa, que a dama quase não percebeu a mudança na atitude de seu amado. Quando o guerreiro pediu a ela que ficasse ao seu lado, pegou-a de surpresa.
Ela lhe escreveu um poema, um dia, para descrever os sentimentos que lhe iam ao coração. O guerreiro guardou uma cópia entre seus pertences queridos, juntamente com as outras cartas que ela havia escrito, retratos de batalhas, de alegrias e lembranças de seu passado.
E então eles estavam juntos, e aos olhos de todos era um grande casal. Companheiros, amantes, amigos. A dama sentia cada dia de luta pela conquista de seu guerreiro recompensado a cada toque, a cada beijo.
Aconteceu que, com o tempo, a dama perdeu sua identidade. Sempre preocupada apenas em fazer o guerreiro feliz, em satisfazer seus desejos, ela se esqueceu de si mesma. O seu maior erro foi cometido, e logo e seu amado não a reconhecia mais, e ela sem perceber que errava, pensava que o problema estava com ele.
Porque eles se amavam e eram tão companheiros, levou tempo até que percebessem o que estava acontecendo. Ela se calando diante de coisas que a incomodavam, ele relevando as coisas que o incomodavam. Ambos esperando as coisas mudarem.
Mas sem atitudes concretas, nada muda. Foi o que aconteceu com o casal.
Quando a dama tomou uma atitude, já era tarde. Ao questionar o guerreiro sobre o que ele sentia por ela naquele momento, a resposta foi:
- Já não sinto mais nada por ti.
Ela ainda tentou perguntar o porquê, mas não precisou refletir muito para perceber que, nos últimos tempos, ela havia errado demais, e reclamado de menos dos erros do companheiro.
Após dias de pouco sono e muitas lágrimas, a dama decidiu que a maneira menos dolorosa de continuar a viver seria se afastar do guerreiro, ficar longe de sua imagem, de sua voz. Embora ainda tivesse grande amizade pela dama e gostasse de sua companhia, o guerreiro consentiu em ficar distante, e também seguiu seu caminho.
A dama ainda sofreu por mais tantos dias, chorando a noite, quando devia estar dormindo. Escondia de todos a sua dor, não tocava mais no nome dele nem perguntava como ele estava. Aos poucos a dor deu lugar a um aprendizado. No silêncio da mente e do coração, ela percebeu que era ainda muito jovem, e a vida estava inteira a sua frente. Decidiu que iria viver plenamente, um momento de cada vez. Sua fé a fez mais forte, e as coisas de que ela tinha certeza eram pedras firmes em que se apoiava. Ela poderia amar o guerreiro para o resto da vida, mesmo que ele já não a amasse, mas mesmo com este sentimento dentro dela, ela iria se esforçar para ver algo bom em outros homens. Deixaria outros se aproximarem e se deixaria conhecer, assim como se interessaria e conheceria a eles. Iria amadurecer, e conhecer a si mesma também. Com tudo isso, ela tinha certeza de que aprenderia o jeito certo de amar, quando o amor torna a pessoa forte, ao invés de lhe sugar a vida.
Muitos anos se passaram após aquele dia, muitos.
A dama era então, uma pessoa diferente, mas ao mesmo tempo, ainda era a mesma. Havia mesmo vivido e aprendido muitas coisas, conhecido pessoas diferente, tido outros companheiros. Ela aguardava o dia em que deixaria de amar aquele guerreiro, para então poder se casar e constituir uma família, mas este dia ainda não havia chegado. Ela não fazia comparações, nem mencionava seu primeiro e amado homem para os outros. Era carinhosa e compreensiva com os homens que estavam ao seu lado, mas o amor pelo guerreiro estava sempre lá, e não permitia que os sentimentos dela por aqueles homens fossem além do “gostar”. Ela não pensava nisso o tempo todo, mas em alguns momentos, uma onda de saudade e carinho tomava conta de sua alma, e ela pensava nele.
Em um dia em que os pensamentos da dama estavam longe, ocupados com outras coisas, chegou-lhe uma notícia inesperada. Soube ela que o guerreiro há muito tempo havia partido e ninguém sabia para onde, sabiam apenas que ele se foi para aperfeiçoar-se em artes marciais, algo que almejava desde jovem, e tornar-se um guerreiro mais forte.
Diante desta notícia, a dama se comoveu, Pesou-lhe pensar que o seu ainda amado estava fora de seu alcance, mesmo tendo passado todos aqueles anos distante dele. Como numa avalanche, vários sentimentos se apoderaram dela com força, de forma avassaladora. E como a própria avalanche, tudo durou poucos segundos. A calma e a mansidão vieram em seguida, assim como a clareza dos pensamentos. Ela decidiu que era chagada a hora de se reunir novamente com o verdadeiro homem da sua vida. Ela percebeu que a vida havia lhe ensinado as lições que ela precisava aprender, porque ela se dedicou a vida de coração. Ela se sentia pronta para ir ao encontro do seu destino.
Com poucas coisas como bagagem e uma grande paz de espírito, a dama partiu em sua jornada. De lugar em lugar em busca do paradeiro do guerreiro, ela passou semanas vagando, comendo o que podia, dormindo onde conseguia. As pistas a levaram a beira do mar, então ela soube, como uma voz sem corpo soprando em seu ouvido, onde ele estava. Ele havia atravessado o mar, para o outro lado do mundo, para a terra dos maiores guerreiros, para juntar-se a eles e ser treinado. Agora ela seguiria com rumo certo.
Após uma longa viagem, ela chegou à terra dos grandes guerreiros, onde todos eram, de certa forma, guerreiros. Pessoas dedicadas a conseguir a perfeição em todos os gestos e atitudes, em todas as práticas e aspectos da vida. Era mesmo o lugar perfeito para ele estar.
Com poucas indagações, ela seguiu caminho até um vilarejo isolado e muito tradicional, onde todos viviam como em tempos antigos. Em todos os momentos aquela paz de espírito a acompanhava, e a fé lhe fazia companhia. Só o que lhe incomodava era um receio, o de falhar na sua busca, de que aquela missão estava além da sua capacidade. Foi o único medo que sempre esteve com ela, um medo que ela não superou, apesar de agora o amor a fazer forte.
Quando finalmente chegou até o vilarejo, teve outra surpresa. Sentado a beira do caminho, havia um arqueiro com a arma as costas, vestido em sua armadura. Assim que se aproximou dele, o homem a cumprimentou, e olhando em seus olhos falou:
- Eu esperava por você, senhorita.
- Como podia estar esperando por mim, senhor, se não o conheço?
- Eu sabia que alguém viria de longe e precisaria de ajuda e orientação. Venha comigo senhorita, deve aprender a manejar o arco.
Mesmo estando em busca de seu guerreiro, a dama sentiu um propósito naquela situação. Sua decisão de viver a vida a cada momento e aproveitar as oportunidades fez com que seguisse o arqueiro. Iria aprender aquela arte, já que ao que tudo indicava, fazia parte de seu destino. Em um campo de treino no topo de uma montanha, ela iniciou seu aprendizado.
Meses se passaram desde o dia em que ela aceitou o convite do arqueiro. Sua persistência e disciplina, adquiridas ao longo dos anos, tornaram a arte mais fácil, mas as lições mais importantes estão contidas nos detalhes. O último grande desafio do arqueiro para ela parecia impossível, e era esse desafio que a mantinha ali tanto tempo. Ela devia acertar um alvo pequeno como uma nos, a uma grande distância. Todos os dias ela se preparava para a tarefa, e tudo nela estava correto: a postura, a tensão no arco, a concentração. Mas a flecha não acertava o alvo. Com o passar dos dias a dama ia ficando frustrada, pois não partiria dali enquanto não completasse a última tarefa, que concluiria seu treino ali.
Um dia ela acordou e não foi até o lugar de costume, tentar acertar o alvo. Pegou o arco e a aljava de flechas, subiu um pouco mais a montanha e sentou-se, contemplando a vila lá embaixo. O arqueiro observou os movimentos da dama de longe, com o semblante de alguém que percebe que a luz está chegando.
A dama havia entrado no silêncio, procurando a resposta. Ia pensando em todas as coisas, desde o dia em que abraçou a vida, até aquele momento que a desafiava. Quando todos os acontecimentos bailavam pela sua mente como em uma festa, ela percebeu o medo. Aquele medo de não conseguir, da tarefa estar além da sua capacidade. Então veio o questionamento: “Porque acertar a flecha no alvo seria impossível para ela?” Afinal, ela sabia que o problema não era sua técnica, nem força, nem capacidade. Ela havia superado todos os outros desafios anteriores, mesmo o desafio de descobrir aonde ir e de chegar até ali ela havia conseguido vencer. Porque aquele seria diferente?
A dama pegou suas coisas e desceu a montanha com firmeza, decidida. Pensava que iria conseguir agora, porque era só uma questão de acertar uma flecha num alvo. A distância era grande e o alvo pequeno, mas a questão ainda era a mesma, apenas acertar uma flecha em um alvo.
Chegou ao campo de treinamento e se posicionou no local para a derradeira tentativa. O arqueiro a tudo observava com tranqüilidade, pois sabia o que iria acontecer agora.
O alvo estava lá, à distância, intocado. Mas não por muito tempo.
A madeira do arco gemeu sob a tensão das mãos, agora treinadas, da dama. O tempo parecia estar parado, apenas uma leve brisa soprava e se apurassem os ouvidos, os corações ressoariam.
A flecha partiu sem aviso, veloz como um raio, tão rápida que quase não se pode acompanhar seu destino, mas nem era preciso, bastava olhar o alvo. Num segundo, ela estava cravada em seu pequeno centro.
Suavemente, a dama se voltou para o mestre:
- Agora meu treinamento aqui terminou, consegui superar o último desafio. – falou, com um sorriso de paz estampado.
- Muito bem, senhorita. Finalmente você superou o último desafio, mas tenho certeza de que neste momento, você sabe que o desafio não se tratava realmente de acertar aquele pequeno alvo. Então, de que se trata esta lição?
- De que nada está além da nossa capacidade. Tudo é uma questão de acreditar, compreender o que deve ser feito, e fazer.
- Parabéns! – falou o arqueiro. - Agora pode seguir ao encontro do seu destino. – completou o mestre, apontando uma trilha quase oculta entre as árvores, aparentemente muito pouco usada.
De imediato a dama sentiu aquela voz novamente sussurrando ao coração. Ela estava o tempo todo no caminho certo, e agora chegaria até ele.
Despediu-se do arqueiro, que agora era seu mestre e por ela admirado e respeitado. Juntou suas poucas coisas, o arco e a aljava, e sem temer nada, enveredou pela trilha abandonada, um passo firme após o outro, ao encontro do guerreiro.
Mais dois dias ela seguiu pela trilha, que horas era clara, horas nem tanto, mas a calma e a segurança que agora sentia parecia guiá-la como uma bússola, sempre no caminho certo.
Quase sem perceber, ela estava em meio a um bosque de pinheiros antigos, de troncos grossos e nodosos e galhos largos que abrigavam muitas vidas. Havia um pinheiro sobre um pequeno barranco rodeado de muitos arbustos e plantas, como uma parede. O tronco convidava para uma subida, e a dama, interessada em ver onde estava, começou a escalar.
Quando ia chegando na metade do caminho, escutou algo. Pareciam gritos. Mas não eram gritos à toa, eram gritos de guerra, como explosões que quebravam o ar calmo do bosque. E ela conhecia aquela voz, conhecia aquele ímpeto. O guerreiro estava muito próximo!
Ela escalou o restante do pinheiro depressa, levada pela emoção, o foco sempre voltado para o seu destino. Quando chegou a um determinado galho, parou de chofre. Dali ela pode ver que estava na beira de um vale. Mais abaixo, o bosque terminava e ali estava uma bonita clareira. No meio dela, uma casa típica, pequena e simples, a frente desta um tablado de madeira, e sobre ele, aquele que a dama tanto procurava.
A distância era grande, mas ela podia ver claramente que era ele. Os movimentos fortes dirigidos a um poste de madeira no centro do tablado, a voz potente, a cor dos cabelos, as costas largas. Finalmente, ela encontrou seu guerreiro. E sabia com certeza o que fazer, mesmo após todos aqueles anos. De dentro da pequena bolsa de viagem tirou o papel com o poema que havia escrito ao amado, aquele que falava sobre seus sentimentos por ele. Enrolou o poema a uma flecha e amarrou-o, se colocou na postura para atirar e mirou, por sobre o ombro do guerreiro, um anel de ferro que estava preso ao poste. Desferiu um tiro certeiro. De onde estava ela pode ver a reação do guerreiro, que apenas olhou para a flecha ao lado de sua cabeça, e em seguida desamarrou a carta e pôs-se a ler. Então sua expressão foi tão intensa que a dama pode identificar a surpresa lá do alto de seu pinheiro.
Neste momento, o guerreiro se voltou na direção em que ela estava e começou a chamar seu nome, tão alto que espantou os pássaros de seus ninhos. O coração da dama disparou e seus olhos se encheram de lágrimas emocionadas. Ela começou a descer do pinheiro soluçando, mas ainda tinha de fazer uma coisa.
Contornou a cabana, de forma a chegar por trás do guerreiro. Enquanto isso, ele ainda direcionava seu chamado ao bosque a sua frente. Silenciosamente ela se aproximou da cabana. Passou por ela como uma sombra e chegou ao tablado. O guerreiro ainda chamava. Ela subiu no tablado e parou, ereta e forte, olhando para ele. Neste momento ele se voltou rápido, como se ela tivesse lhe cutucado as costas. O momento em que se olharam nos olhos foi como os minutos que antecedem uma tempestade de raios: silencioso e carregado de energia.
Quem olhasse para eles não seria capaz de descobrir o que se passava em suas mentes. Após momentos de imobilidade, a dama deu um passo na direção do guerreiro, depois outro, e mais outro. Quando estava a pouca distância, o guerreiro esboçou um sorriso, e foi então que ela atacou. Como uma serpente, ela deu um bote veloz e certeiro na direção do guerreiro. Ele se desviou prontamente, tendo em seguida que se esquivar e se defender de outros golpes e ataques feitos pela dama. No primeiro instante ele não entendeu o porquê daquela atitude, mas bastou pensar um pouco para descobrir o que ia ao pensamento de sua dama.
Para ela, o tempo em que viveu plenamente foi muito importante, foram seus anos de aprendizado e conhecimento. Mesmo não tendo seguido o caminho de um guerreiro, ela havia adquirido experiência de vida e sabedoria, avia encontrado sua verdade pessoal. Havia também passado muito tempo em jornada, procurando por ele. Era óbvio que no momento em que o encontrasse, não iria esquecer tudo isso e fazer parecer que não tinha sido nada. Ela estava extravasando o que ainda restava de antigos sentimentos, a sua angústia, a saudade e até a mágoa que ela guardou do tempo em que estavam juntos e ela relevada os problemas. Ele achou justo deixar que ela se libertasse daquele peso, para poder finalmente começar de novo.
Por confiar agora na mulher que estava a sua frente, e por estar absorto nestes pensamentos conclusivos, o guerreiro se distraiu por um pequeno instante. Neste momento, a dama percebeu o deslize, e graças ao treino com o mestre arqueiro e seu atual estado de espírito, ela conseguiu entrar na guarda do guerreiro. Este de repente se viu de braços abertos, a mercê de qualquer golpe. A dama se adiantou e sem mais rodeios, envolveu o guerreiro em um abraço forte como o tempo.
Com um suspiro em uníssono, os dois estavam juntos, realmente juntos outra vez.
O guerreiro fechou os braços fortes em torno da sua dama esguia e delicada. Dava-se conta então da falta que sentira dela. Cheirou seus cabelos, tocou o seu rosto com carinho. Ergueu então os olhos dela para os seus, e disse:
- Só havia mesmo uma pessoa no mundo que poderia me encontrar e vir até aqui, e eu sabia que um dia você viria.
Com um beijo repleto de saudade, de amor e confiança, os dois assinaram seu destino. Agora os anos poderiam passar, dia após dia da maneira que a vida quisesse. Agora o amor era o certo, aquele que torna as pessoas fortes, aquele que traz sabedoria para a alma.

Aguardo os comentários! Obrigada por lerem! ;)

2 comentários:

  1. Parabéns Alissaaaa!! gostei muito xuxu
    escreva mais contos =)

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  2. ...Belíssimo; Inspirado e de final inesperado...
    ...quero mais ;-)

    beijo beijo

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